A alta do preço do óleo de soja complicou a vida dos comerciantes que trabalham diariamente com fritura. Em São Paulo, vendedores de pastel de Feira, pipoca e churros contam UOL começaram a espremer as margens de lucro, pesquisando fornecedores e até reutilizando o petróleo “até o limite”. Mesmo assim, eles não podem evitar aumentar os preços para os clientes.
O óleo de soja é subiu 20,37% apenas em 2022 e acumula alta de 31,53% em 12 meses, segundo o dados mais recentes do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Gislene moneratoSócia da empresa Tentação Churros, compra cerca de 400 litros de óleo por semana para manter sua operação em quatro localidades da cidade.
A solução para economizar é procurar o menor preço nos mercados atacadistas e centros de distribuição e fazer uma série de cotações por telefone. Em uma fritadeira de churros, vão dez litros de óleo.
Antes, se eu pagasse R$ 0,50 a mais pelo óleo, o custo final não mudava muito. Agora, o funcionário que faz as compras corre para pedir desconto. A despesa é muito grande.
Gislane Moneratto, parceiro do Temptation Churros
No início do ano, ela pagava de R$ 7 a R$ 8 por uma garrafa de óleo, enquanto hoje ela paga R$ 13. Ela já teve que aumentar os preços dos churros duas vezes em 2022, primeiro de R$ 8 para R$ 9 e depois para R$ 10.
“Preferi aumentar o preço e manter a qualidade. Estamos seguros como podemos, mas é difícil”, diz.
Em feira, padeiro usa óleo ‘no limite’
Na zona leste de São Paulo, o padeiro João Carlos Nakasama diz que não pode repassar todo o aumento do óleo aos clientes.
“Temos que aguentar e ganhar menos, porque usamos muito óleo, não tem como substituir por outra coisa para fritar. O pastel já passou de R$ 7 para R$ 8 desde o início do ano. , diz.
O reajuste do pastel não afastou os consumidores, segundo ele, seja pela tradição de comer pastel na feira ou pela economia com o almoço.
“As pessoas acabam comprando mesmo com o preço mais caro. Você pode comprar menos, mas a crise não está afetando tanto nesse sentido, já que eu vendo comida. Muitos comem o pastel ao invés de almoçar em um restaurante, gastando mais”, diz Nakasama.
Uma fritadeira de pastel contém cerca de 25 litros de óleo, mas Nakasama usa entre 15 e 18 litros por vez. Dois dias depois, na próxima feira, ela reaproveita o óleo.
Frito cerca de 500 pastéis com uma panela. E uso o mesmo óleo hoje e na próxima feira. Depois não uso mais.
João Carlos Nakasama, confeiteiro
Ele diz que descarta o óleo após o segundo uso porque fica “muito queimado”.
Em outra feira na zona leste de São Paulo, o confeiteiro Rafael Yamamoto compra óleo em galões de 18 litros. No início do ano, ele pagava R$ 165 por galão, e agora gasta R$ 190.
“Dezoito litros de óleo duram apenas um dia. Usamos o mesmo óleo o dia todo e descartamos no final”, diz.
Do final do ano passado até agora, a barraca teve que aumentar o preço em R$ 1 — passou de R$ 8 para R$ 9. “Ainda vamos segurar mais um pouco esse preço, mas as coisas estão difíceis” , diz Yamamoto.
O problema da estratégia usada pelos confeiteiros para economizar é que reutilizar o óleo faz mal à saúde. O ideal é usar uma vez e descartar na hora.
“Usar óleo não é mais saudável, pois contém gorduras saturadas de má qualidade. Quando usado várias vezes, é ainda pior, pois passa por um processo que torna o óleo cada vez mais tóxico e produz substâncias que aceleram o envelhecimento celular e podem aumentar o risco de doenças crônicas, incluindo o desenvolvimento de câncer”, diz Vivian Campos, especialista em medicina integrativa.
Como está a pipoca?
A pipoca é feita com poucos ingredientes: milho, óleo e sal ou açúcar, dependendo da escolha do cliente. Para os vendedores de pipoca, o preço do óleo impacta diretamente nos lucros, pois não conseguem repassar a alta ao consumidor.
O produtor de pipoca Ronivon Amaro prefere ter um lucro menor do que perder vendas. Hoje cobra de R$ 5 a R$ 10 por pipoca, dependendo do tamanho da embalagem.
“O pior é que você não pode aumentar o preço. O movimento já caiu muito. Se eu aumentar mais, as pessoas não compram”, diz.
Raul Naves vende pipoca na região de Mauá (SP) e na zona leste de São Paulo, em frente a escolas, casas lotéricas e igrejas. Ele usa de quatro a cinco litros de óleo por semana para fazer cerca de 200 pacotes de pipoca por dia.
“Não mudei o preço. Se aumenta, o cliente não compra. Temos que gastar mais, até para agradar e fidelizar os clientes”, diz.
Assim como os comerciantes ouvidos pelo UOLA Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) diz que os restaurantes e bares estão optando por ganhar menos para não repassar os aumentos ao consumidor.
Todo esse esforço tem sido muito árduo, e é a principal razão pela qual um em cada quatro estabelecimentos está operando com prejuízo.
Paulo Solmucci, CEO da Abrasel